Neste ano de 2023, a família Franciscana celebra o centenário dos 800 anos do Presépio de Greccio. “A pobreza do Filho de Deus no Mistério da Encarnação, o Natal de Greccio”. Nós, filhos de São Francisco, sabemos que sua vivencia foi marcada pela intensa busca de viver a perfeição do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Das muitas buscas espirituais de São Francisco que mais lhe tocou foi a do mistério da encarnação. Era preciso sentir como se deu o nascimento de Jesus. Só assim entendia São Francisco poder ser possível se dar sua aproximação com o Mistério da Encarnação. Esse desejo foi descrito assim por Fr. Tomás de Celano:

“Celebrar com inefável alegria mais de que outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, afirmando que é a festa das festa, em que Deus tornou-se criança, dependendo de peitos humanos” (2 Cel 199,1).

No ano 1223, São Francisco de Assis, a partir da festa de todos os Santos, fez sua “quaresma de Natal”, equivalente o que hoje chamamos de Tempo do Advento, preparando-se assim para bem celebrar o Natal e com a proximidade da festa, Fr. Tomás de Celano relata: “A mais sublime vontade, o principal desejo e supremo propósito era observar em tudo o Santo Evangelho, seguir perfeitamente a doutrina, e imitar e seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo com toda a vigilância, com todo o empenho, e com todo o desejo da mente e com todo fervor do coração. Recordava-se em assídua meditação das palavras e com penetrante consideração rememorava as obras dele. Principalmente a humanidade da encarnação e a caridade da paixão” (1 Cel 84,1-4).

São Francisco buscou sua própria maneira de vivenciar e sentir em seu ser o como havia se dado o nascimento de Jesus na realidade concreta. E para dar sentido do que buscava chamou um senhor com nome de João proveniente do povoado de Greccio e lhe dá a seguinte recomendação: “Se desejas que celebremos em Greccio a presente festividade apressa-te e prepara diligentemente as coisas que eu te digo. Pois quero celebrar a memória daquele Menino que nasceu em Belém e ver de algum modo com os olhos corporais os apuros as necessidades da infância dele, como foi reclinado no presépio e como, estando presente o boi e o burro, foi colocado sobre o feno” (1 Cel 84,7-8).

O que sabemos dos biógrafos de São Francisco, é que naquela noite de Natal de 1223, a grandiosa festa se deu no bosque numa gruta próxima ao povoado de Greccio. Naquela noite rompeu-se o silêncio que reinava no bosque. “Lá estavam o boi, o burro, o feno, os frades, as pessoas do povoado, o bosque, a noite iluminada, as tochas e o Evangelho que, proclamado por São Francisco, mais uma vez se fez Palavra encarnada: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jó 1, 14). Sendo assim, confirmava-se o que São Francisco havia exclamado com alegria no coração na Igrejinha da Porciúncula ao iniciar sua caminhada de conversão: “ É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do meu coração”.

Estamos no ano 2023, há uma distância cronológica do fato que se deu em Greccio de oito séculos, hoje com novos e grandes desafios na vida humana da atualidade e que necessitam ser superados , no entanto, a intuição de São Francisco não se apaga, se faz presente nos mais variados ambientes culturais, nos lugares mais distantes e difíceis, nas catedrais e nas capelas mais simples, nas mansões, nas casas, e nos barracos, todos se voltam com o propósito de buscar luz no Mistério da encarnação de Deus que se faz criança, e está sempre vivo e presente no mundo com suas alegrias e dores. Que ao celebrarmos mais uma vez a memória do Menino Jesus deixemos de lado o que não condiz com o espírito do verdadeiro Natal, mas sim, que abramos o nosso coração para acolher o forte desejo de nos comprometer de estar sempre em comunhão com Deus, com a Igreja, e no cuidado com o irmão e com toda a criação na sua plenitude, com a mesma ternura do coração do Menino Jesus.

Que cada um de nós faça desta data marcante para a família Franciscana, por ser o ano do centenário da Regra Bulada e do Presépio de Greccio, o propósito de não deixar esquecido o Menino Jesus que veio fazer sua morada ao longo de nossa vida. E que cada um possa dizer: Fique sempre conosco Menino Jesus, na nossa prática de oração, no amor a Nossa Senhora, na simplicidade de ser, na misericórdia para com o outro, na solidariedade com os que mais sofrem, no servir, na gratidão, e no cuidado com a criação, e sobretudo, no testemunho de sermos frades da Penitência e instrumentos de Paz nesse mundo dilacerado por tantos sofrimentos humanos.

Desejo a cada confrade e seus familiares um Feliz Natal e um Feliz ano novo!

Não nos falte esperança… Sempre com minhas preces a cada um… Paz e Bem a todos!

 

Frei Agostinho Odorizzi – TOR

Ministro Provincial